Mar da minha Infância

Dos tempos de infância, ficaram-me as calemas, um mar imenso, um lugar de meditação, onde contemplava o infinito, procurando sentido para o que sinto. No mar encontrava, grandeza, distância, sensação de impotência e falta de controlo ou domínio da imensidão da paisagem. Mergulhava no seu interior, sustinha a respiração, parava os movimentos por completo e apoderava-se de mim, uma ausência do meu eu. Invadia-me um sentido de pertença, eu fazia parte daquela infinidade que me rodeava.
No bater das ondas, contra o peito colado á areia do fundo de um mar em tempo de calema, encontrava a segurança, onde me podia refugiar.
A calma e o controle eram como um ponto de honra para sobreviver, para vencer a força do mar. Qualquer excitação e descontrole seria a morte certa.
Volto a olhar o mar. Contemplo-o por tempos e tempos, um mar imenso, sempre diferente, cheio de força.  Sinto ausência, permanência, solidão e partilha. Fecho os olhos. Tudo se esvanece, como a espuma do mar, como se tudo se arrastasse no tempo entre tempestades, entre bonanças e ausências, entre distâncias e proximidades. Aí procuro, perco e reencontro. Sorrio e amo, como num jogo de forças, como na vida.

Cabo da Roca, Portugal
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